terça-feira, 21 de setembro de 2010

De Novo Hamburgo à Foz do Iguaçú de Bicicleta

Uma aventura alimenta a imaginação, habita os pensamentos e o desafio é torná-la real.
O primeiro passo (ou a primeira pedalada) é o mais difícil, mas isto passa logo que estamos ao sabor do vento.

04 de maio de 2002 – sábado - De Novo Hamburgo à Marques de Souza – às 6:30 da manhã retirei a bicicleta da sala, bagagem amarrada (água nas garrafinhas, reparos e algumas ferramentas para imprevistos, algumas barras de cereais e chocolates).
Este primeiro dia foi tranqüilo e percorri 135 km até as 16 horas da tarde. Pernoitei no hotel do posto de gasolina, segundo andar, onde fiz questão de levar minha bicicleta para dentro do quarto, evitando com isto a necessidade de desamarrar o alforje. Carimbo de comprovação na polícia rodoviária de Lajeado pelo policial Schneider às 14:16.

05 de maio de 2002 – domingo – De Marques de Souza à Tio Hugo – saída às 6:35, café em Pouso Novo as 9:00 e devido a falta de preparo, aquisição de alguns dorflex e pomada com xilocaína para amenizar as dores. Carimbo na polícia rodoviária de Soledade às 10 horas pelo policial Bonoma. Pernoite entre as cadeiras e mesas do restaurante rota do sul em meu fiel companheiro saco de dormir da coleman. Percorridos 118km até as 18:30.

06 de maio de 2002 – segunda-feira – De Tio Hugo à Sarandi – saída as 7:10 passando por Carazinho onde comprei uma Kodak simples para registrar algumas fotos, com muita subida e não querendo arrebentar os joelhos, encerrei o dia as 14:50 com apenas 96 km. Pernoite no hotel no Pingo na Barra funda, onde me permiti uma janta reforçada e cedinho fui curtir uma boa cama, bem diferente do piso da noite anterior. Carimbo no posto rodoviário de Sarandi, efetuado pelo policial Enio L Fritzen. A quem por ali passar recomendo dar uma boa olhada no painel de acidentes ali exposto.

07 de maio de 2002 – terça-feira – De Sarandi à Irai – saída as 06:35, alguns pingos gelados e depois sol... Muito vento de frente entre palmeira das Missões e Boa Vista das Missões onde com muita persistência cheguei para almoçar e acalmar a carência do meu organismo após aquela batalha contra o vento. Carimbo na polícia rodoviária de Seberi, policial Adalberto as 15:00. Chegada em Irai as 18:30 com 142 km, pernoitando no hotel Califórnia no centro da cidade.

08 de maio de 2002 – quarta-feira – De Irai à São Miguel do Oeste – saída de Irai ás 07:00, a ponte sobre o rio Uruguai esteve bloqueada a noite toda pelos colonos que estavam em protesto reivindicando assentamento de terras, mas quando cheguei por lá já haviam liberado e passei tranqüilamente. A BR 282 foi quase só capim e degraus, não tem acostamento. Em Maravilha - SC carimbei meu caderninho com o policial Canísio na Polícia Rodoviária. Chegada em São Miguel do oeste ás 18:00, de arrasto para totalizar 109 km, lomba e mais lomba.

09 de maio de 2002 – quinta-feira – De São Miguel do Oeste-SC à Pérola do Oeste-PR - saída passando das 7:00, com muita cerração, acostamento estreito e invadido por capim elefante exigindo muito malabarismo para não cair ou nas valetas ou embaixo de um caminhão. Por volta de 10:00 fiz uma visita para a Sra Kolling, mãe da madrinha de minha filha, em São José do Cedro. Às 12:30 já estava cruzando a divisa com o Paraná (meu estado de nascimento) onde almocei já na cidade de Barracão. Parece que a chuva está fugindo de mim. Sol e mais sol. Cheguei em Pérola do Oeste quase noite totalizando 132 km.

10 de maio de 2002 – Sexta-Feira - De Pérola do Oeste à Foz do Iguaçú – saída ás 07:05 passando por Planalto onde carimbei na polícia rodoviária a comprovação de minha passagem por ali e depois até Capanema. Em Capanema, quase saindo da cidade, topei com mais um curioso entre os tantos que sempre existem pelo caminho. “De onde vem? Para onde vai? E esta bicicleta é especial? Já furou algum pneu? Onde dorme? Onde come? Não tem medo?” E este me convenceu a passar pela reserva da Argentina, já que a nossa reserva foi fechada para trânsito de veículos, devido as constantes mortes de animais por atropelamento, e argumentando que lá veria animais, pássaros e que de preferência fosse bem cedo. E foi ai que cometi minha maior loucura. Ter saído sem preparo adequado, foi de menos. Curioso para saber onde e se conseguiria atravessar, me larguei estrada afora rumo a fronteira com a Argentina. Sem almoço, 11:50, duas barras de chocolate e uma garrafa com água, e cambiado alguns reais por pesos fui ao mundo. Os pesos por sugestão do fiscal argentino que quando chegasse no inicio da reserva, que esperasse o ônibus, pois pela reserva não pode passar a pé ou de bicicleta, “hay tigres”, e outros animais, poderia correr riscos. Porém, chegando lá, no posto de fiscalização não havia ninguém, esperei uns 15 minutos e nada, resolvi ir adiante, estrada e mais estrada, lisa as vezes, outras com muitas pedras, algumas bifurcações onde ficava tentando adivinhar o caminho mais batido para escolher por onde ir, chocolates já devorados, sem água, muita sede, só mato, e estrada, sobe e desce de longos morros e em meio a reserva nenhum morador. Lá pelas 16:30 surgiu uma moto, XL 250 com um casal, o qual comentou que o tal ônibus vinha muito longe e muito lentamente e que eu chegaria antes no asfalto no final da reserva que se esperasse por ele. Confesso que pagaria para ser rebocado e só não o fiz por vergonha. Já por volta de 18 horas e começando a escurecer e o medo aumentando, e num estado calamitoso, vi o fim da reserva. Graças a Deus. E ele existe. Logo adiante o acesso às cataratas argentinas, depois a cidade de Puerto Iguazú, mas não me ative a nada, queria voltar ao Brasil, não tive curiosidade em perder mais tempo. Alfândega, água para rodar com os pneus devido aos surtos de aftosa, passei reto, não me pediram nada, cheguei em Foz no primeiro hotel que achei pela frente já por volta de 20:30, totalizando 129 km. Total da viagem 865 km. Poupados neste atalho uns 140 km, apesar da insanidade que foi.
No hotel, subida ao quarto, ataque ao frigobar apenas duas tônicas e dois pacotes de rufles. Os quais foram devorados em minutos. Mas a carência era imensa, após um banho quente, saí em busca de alimento, aquelas duas latas e os dois pacotes de batatas nem fizeram cócegas. Descendo pela avenida encontrei aqueles bares que montam em frente as lojas após o seu fechamento. No primeiro tomei uma sukita e um cheese. Mais abaixo, longe do alcance dos olhos do primeiro, mais uma guaraná e um churrasco grego (é um pão cheio de pedaços de carne, tipo um entrevero no pão). Nem acredito, normalmente um cheese é o suficiente. Ufa.

Desafio concluído.

11 de maio de 2002 - Sábado - pedalei mais 90 km, carona de um caminhão em direção a Marechal Cândido Rondon onde visitei alguns parentes por 4 dias e depois Busão de volta para casa. Lar doce Lar. Partir é maravilhoso, regressar são e salvo melhor ainda.

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