quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Uruguai 360 - Janeiro de 2007




Mais uma vez deu a crise de querer pegar a estrada e rodar por aí. E por que não matar a curiosidade de visitar um país vizinho? Uruguai, país pequeno, pacato, povo maravilhoso e gentil.
Saí de casa no dia 02/01/2007, as 5:30 da manhã... Lambreta abastecida, óleo, corrente lubrificada e uma câmera podre na roda traseira, a qual foi remendada três vezes na véspera porque não encontrei uma novinha para eu sair mais tranqüilo. Já por volta de 10:30 da manhã, descendo a estrada que cruza o Taim, lá se foi ela, a moto começou a dançar e tive que usar de destreza para não me perder e sair da estrada. Por sorte, estava bem na vila agrícola da ‘55’, que pertence ao grupo que produz o arroz “Tio João”. Com auxilio do bodegueiro em erguer a moto e apoiá-la sobre um botijão de gás e uma caixa plástica de mercadorias, tiramos a roda para encaminhá-la para conserto. Me fui para a parada e aguardei por mais de hora até passar um ônibus que liga Santa Vitória do Palmar à Pelotas. Chegando na “Quinta”, fui direto pra borracharia, onde já sabia de antemão que teria que correr atrás de uma nova, pois a coitada estava imprestável. Lá me fui de ônibus para a cidade de Rio Grande. Depois de percorrer alguns locais a pé e via moto-boy, consegui uma câmara na autorizada da Yamaha. Bueno, mais uma vez, ônibus até a Quinta, para montar a roda que ficou pronta já pelas 14 horas. O próximo ônibus que passaria pelo Taím sairia lá pelas 16:00, o jeito foi almoçar, tomar um sorvete e esperar o bendito. Por volta de 17:30 estava novamente na estrada, graças ao auxílio do bodegueiro para recolocar a roda na minha ilustre lambreta, em direção ao Chuí. O lado bom de se ficar empenhado é que aumentamos em muito o contato com novas pessoas nos vários lugares por onde somos obrigados a percorrer, ao invés de depreciar a viagem acaba enriquecendo-na. Atravessando a reserva do Taím não se vê muitas espécies, pois os poucos animais que circulam por ali devem ter um medo enorme da velocidade em que as lindas camionetas importadas cortam aquela estrada desrespeitando os avisos de cuidado e preservação, mas este é o humano, o dito civilizado que com um motor potente embaixo de sua bunda se sente o rei da estrada. E o que confirma esta imbecilidade humana, é a grande quantidade de animais esmagados que pude contabilizar sobre o asfalto. Encerrei este meu primeiro dia em Santa Vitória do Palmar, jantando numa confeitaria e pernoitando num pequeno hotel.
Segundo dia, 03/01, acordei cedo, ansioso para atravessar a fronteira, cambiei alguma ‘plata’ por pesos uruguaios e procurei por um banco para fazer a bendita carta verde, que para minha surpresa só fazem para motos acima de 600 cilindradas aqui no Brasil, o jeito foi ir sem seguro mesmo. Em seguida me mandei para a aduana, onde sempre faço uso do meu passaporte, que além de facilitar o trânsito também vai servindo de registro das viagens. Após preencher alguns papéis rotineiros das aduanas, conversei com dois brasileiros de São Paulo que estavam em duas Honda Falcon rumo a Ushuaia via Barriloche. Mais à frente, após rodar alguns quilômetros já em solo uruguaio, visitei a belíssima fortaleza Santa Tereza
e também seu imenso camping com muita sombra e praia. Outro fato a ser considerado são os lindíssimos carros antigos, que no Uruguai tem aos montes e que dão de dez a zero em charme e beleza para com os novos de qualquer marca. Passando por diversas praias, Dulce, Punta Del Este, etc e não me atendo muito a elas, por volta de 15 horas estava circulando por Montevidéu. Toda sua costa banhada pelo mar, seu imenso porto, os passeios à beira mar, os imensos edifícios formando um paredão. Vale a pena retornar para visitá-la por no mínimo uns dois dias para conhecê-la mais a fundo. Passando direto e curtindo apenas a borda desta magnífica cidade segui adiante, pois minha meta era Sacramento, aonde cheguei já anoitecendo. Após deixar a moto no hotel, saí a passear pelas lindas ruas desta cidade e como prêmio ao excelente rendimento e a paz de espírito, nada como uma boa garrafa de vinho tinto uruguaio, sozinho, o que me fez voltar para o hotel meio que atordoado, mas feliz. 04/01, terceiro dia, Sacramento é uma cidade rica em arquitetura, ruínas, ruas repletas de plátanos centenários e uma imensa quantidade de veículos antigos uma beleza extraordinária em plena atividade. Quase meio dia e dirigindo para o oeste uruguaio passei por belíssimas plantações de girassóis, túneis de plátanos, criações de gado e produções de feno, que em imensos rolos a beira da estrada, tornam a paisagem muito particular nesta região. Passando por Fray Bentos, cidade de praia de água doce e turismo bastante forte, segui adiante até a fronteira com a Argentina, na cidade de Paysandú, até onde estivemos de bicicleta, eu e meu irmão Edílson em 2004, pois meu objetivo era visitar um casal de amigos, Osvaldo Rapetti e esposa, já na cidade de Colón-Argentina. É um casal que curte muito viajar e para tal possuem uma belíssima camionete toda adaptada. Vivem da apicultura e sua única filha mora na França. Após uma 'cena maravillosa' preparada pelo casal, pernoitei numa de suas casas ainda vazia a algumas quadras dali. Visita curta, mas que deu para praticar meu espanhol e matar a saudade destas pessoas maravilhosas. 05/01, quarto dia, subindo mais de cem quilômetros pela Argentina até a cidade de Concórdia passando pelo belíssimo Palmar, 'cambiando el aceite y ponendo nafta' em Concórdia, retornei ao Uruguai já na cidade de Salto, onde a travessia é sobre a usina hidrelétrica no rio Uruguai. Tendo rodado apenas 35 km, de Concórdia a Salto, fui adiante deixando de abastecer pouco mais de litro, a quantia que me faltaria no final do trajeto, se eu soubesse, pois de Salto a Artigas não tem posto de gasolina e com um vento muito forte de frente acabei tendo que empurrar a pesada lambreta por mais de 5 km de longas coxilhas e calor de 35 graus. Passando por uma residência, já com a língua arrastando no chão, estava um senhor com um cortador de gramas a gasolina, pensei: "Eis minha salvação". Após uma breve conversa, e eu ter pisado na pata de seu 'perro' brincalhão, o que me deixou um tanto encabulado, vendeu-me uma garrafa de ‘nafta’, o que foi suficiente para chegar à cidade de Artigas, pois faltavam apenas 11 km. Curtindo um pouco a cidade de Artigas, com direito a algumas fotos e um sorvete para espantar o calor, quase findando a tarde retornei ao Brasil já em Quaraí e como do lado brasileiro não veria muitas novidades não parei mais, toquei direto até Rosário do Sul, onde jantei sem a menor pressa, com direito a bifes e uma gelada. De lá parti já por volta de 23:30, chegando em casa por volta de 6 horas da manhã, curtindo por toda estrada um céu estrelado de uma beleza ímpar, fechando assim este rápido giro de 360 graus no Uruguai com chave de ouro.

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